Neste sábado (4), comemora-se o Dia do Pisco Souer no Peru, o drinque a base do destilado de uva que ficou conhecido no mundo pelo seu sabor, e, sobretudo, pela disputa entre o Chile e o Peru pela autoria de sua origem. Segundo os especialistas, ambos os lugares beberam, literalmente, da mesma fonte: a sabedoria dos espanhóis em destilar a uva e tirar dela o forte, saboroso e caliente pisco.
Peruano ou chileno, o fato é que a bebida caiu no gosto popular e, hoje, ainda é tradicionalmente muito consumida nessas regiões. O restaurante peruano Killa, localizado na capital paulista, defende a versão peruana da história. Eles afirmam que, no XVII, o rei da Espanha proibiu o vinho na região, o que obrigou os moradores locais a criarem uma nova versão de bebida alcóolica a partir da uva. Já no início do século XX, um bar em Lima teria popularizado a bebida em forma de drinque, o Pisco Sour.
Para Francisca Riquelme, do restaurante chileno El Guatón, o Chile também tem sua vez na história. Ela explica que a rixa teria vindo de questões territoriais e históricas, e tem a ver não só com a origem da bebida, mas também com o uso da expressão. "O Chile, como país, até admite que o Peru tenha sido o primeiro a usar o nome 'pisco' para o destilado de uva. Oficialmente, o Chile defende a ideia de que a palavra pisco é genérica (como cachaça, tequila) e o Peru defende que o pisco só poderia ser produzido na região de Pisco - à semelhança do Champagne - em seu próprio país", conclui.
Francisca, que é chilena, acredita que o Peru nunca tenha conseguido levar à diante a ideia de formalizar este domínio porque "entendeu-se que o único objetivo era o de prejudicar o Chile como produtor". Ela reforça: "não havia peculiaridades na bebida que sustentassem a nomenclatura exclusivamente peruana", observa.
Ela afirma também que no Chile o pisco é consumido com bastante frequencia, especialmente em drinques combinados com refrigerante, sucos, frutas e creme de leite. "Inclusive há novos drinques que misturam os famosos vinhos chilenos como pisco. O chileno é muito orgulhoso da 'qualidade superior' de seu destilado", conta.
Um pouco de história:
Para Susana Jhun, professora de enologia e harmonização do curso de Gastronomia da Universidade Anhembi Morumbi, a briga não faz muito sentido, uma vez que a bebida teve origem no mesmo local. "Antigamente, não havia essa divisão politica administrativa, então, na verdade, os dois países faziam parte da mesma colônia espanhola".
Ela explica que os primeiros registros do cultivo da uva datam de 1553, na cidade de Lima, no Peru e que os documentos históricos a respeito do destilado também foram lavrados no mesmo local, um pouco mais tarde, em 1613. Para a especialista, além de uma questão territorial, a disputa também reflete interesses comerciais.
A professora de Enologia e Drinques da Universidade Estácio de Sá, Jocélen Sodré, também acredita que a criação do pisco tenha ocorrido primeiro no Peru, devido as baixas temperaturas. Mas como o frio também se faz presente em terras chilenas, rapidamente a bebida caiu nas graças dos moradores locais.
No quesito tradição, ela explica, o Peru também é um pouco mais rígido. "No Chile, é permitido que eles manipulem o destilado, por exemplo, adicionando mais água para diminuir o teor alcóolico. Já no Peru, do jeito que o pisco foi tirado, eles não mexem mais".
Ela explica que as uvas mais utilizadas para o preparo da bebida são as do tipo Colombard e Moscatel, por serem mais abundantes em ambas as regiões e terem maior teor de açúcar. Quanto ao consumo da bebida, os dois países parecem se entender. "Hoje a disputa não é mais tão forte, por conta do surgimento dos outros tipos de bebidas. No Peru a tradição e o consumo é bem maior, mas no Chile o vinho também tem um destaque muito grande", conclui.
Fonte: Terra
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